06/12/2004

na verdade eram dois velhinhos:

o primeiro, americano, baixo, magro, colorado, em transe, descobri no centro de uma roda, dançando com uma morena dobro dele. Não dançavam, propriamente. Todos aplaudiam, inclusive a morena dobro, a sambadinha do velhinho americano. Pausa.

O golb, em festas de casamento, formaturas e solenidades várias, bebe. E, ao beber, vai ao centro da pista, junto com jurubeba que, apesar de não ser dobro dele, aplaude conosco o que se convencionou chamar de sambadinha. Imaginem um drible do garrincha, aquele sem tocar a bola, somado àquela dancinha house sincronizada quando depeche mode imperava, braços numa ginga de capoeira e cabeçadas marcando o compasso. É como vejo a sambadinha. E o velhinho americano copiou e brilhou, como brilha golb.

O segundo velhinho trajava marrom. As sandálias, o terno, a camisa, o chapéu e o lenço sujo, que limpava as sobrinhas dos guspes. Se eu desse três passos com a perna esticada, não alcançaria o começo do guspe do velhinho. Parado num ponto de ônibus, ouviu madureira piegas anunciar que ele era o símbolo da gentileza do povo cearense. Não deu a menor importância, pedindo que lhe dissesse de onde eu vinha. Ao que desfiou seu conhecimento sobre a Revolução de 32, de como as tropas saíam de Fortaleza, pra tomar uma embarcação em Canoa Quebrada, não entendi bem. Que eu pudesse ficar descansado, o ônibus não tardaria a chegar. Os carros faziam menção de parar, ele se aproximava, os carros iam embora e eu imaginava que sua carona jamais chegaria. Falava da Bíblia e dos cordelistas, de família e coisas bonitíssimas, adorei o termo, que poderia comprar para os meus (e eu ia adorando as construções ricas, que fluíam naturais), no mercado central, atrás de nós. Daí chega um carro e dá seta pra parar, logo após o guspe mais longe, ele se despede, avisa a aproximação do ônibus e se oferece ao motorista pra olhar o carro. Fiquei um pouco triste e não quis olhar pra trás.

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