16/02/2005

Rejeição

Nem vou ocupar o tempo de vocês com justificativas. Voltei. Ou melhor, essa coisa de "dar um tempinho" é desculpa pra falta de assunto e preguiça de publicar. Mas agora tem assunto.
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Do Noblat:
Há exatas 24 horas, o então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo (PT-SP), reabriu a sessão destinada a eleger seu sucessor. Dos cinco candidatos iniciais, três haviam sido eliminados no primeiro turno da eleição. Restavam Luiz Eduardo Greenhalg (SP), candidato do PT, e Severino Cavalcanti (PE), candidato do PP. A Câmara tem um total de 513 deputados. Desses, 510 votaram no primeiro turno - 207 em Greenhalg e 124 em Severino. O primeiro precisava atrair cerca de 50 votos para se eleger. O segundo, algo como 130. O vencedor seria aquele que tivesse um voto a mais do que o outro.
Greenhalg discursou primeiro - e o que disse arrancou tímidos aplausos e algumas vaias.
Severino falou em seguida - e o que disse provocou aplausos intensos e gritos debochados de aprovação.
E o que ele disse?
Um monte de frases feitas, mal arranjadas, capengas, capazes de envergonhar qualquer pessoa medianamente inteligente e culta. O fato de ser mau orador não depõe contra ele.
A verdade é que Severino é um político tosco, primitivo, caipira, sem luzes. A maioria dos deputados se divertiu com o discurso dele que invocou Deus, prometeu melhores salários e disse que era um igual entre iguais. A cada frase dita pela metade, a cada arroubo desastrado de oratória, a cada idéia mal exposta, o plenário quase vinha abaixo de tanto rir. Vi alguns deputados baixarem a cabeça como se estivessem constrangidos.
E de um ilustre membro da oposição ao governo, sem que eu nada lhe tivesse perguntado, ouvi a desculpa:
- É isso aí... É o que temos e votaremos nele...
Se o candidato dissidente Virgílio Guimarães (PT-MG) tivesse passado para o segundo turno, ostentaria hoje a condição de novo presidente da Câmara. Mas quem passou foi Severino. E foi Severino quem se elegeu com 300 votos contra 195 conferidos a Greenhalg. Para a oposição e aliados do governo insatisfeitos com ele, valia a pena votar em qualquer um - desde que fosse para derrotar o PT, o governo e Greenhalg, mais ou menos nessa ordem. Severino foi o "cavalo" (pessoa) que nos terreiros de candomblé serve para incorporar espíritos. Cumpriu bem seu papel.
Uma pena é ver que a Câmara será presidida nos próximos dois anos por um político tanto retrógado como inexpressivo.
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Enfim, com os votos do "baixo clero", como disse Villas-Bôas Corrêa (nem vem, Madura, tá na cara que aquele seu comentário é plagio do cara), ganhou o Cacareco.
Na hora de votar, já há algum tempo o que conta é a rejeição. O que vem depois, pouco importa. O negócio é "dar uma lição neles" (ainda que "eles" seja o Governo, que é o Brasil, que -- caspita! -- somos nós).
Saca só o tipo de declaração dos eleitores do novo presidente da Câmara: "O Severino representa tudo que eu condeno em política, mas eles merecem" (Dep. Roberto Brant, PFL-MG).
Enfim, o problema do voto de rejeição é que, em segundo turno (no Big Brother também, claro), rejeição de um é vitória do outro. E tem vezes que esse outro, francamente...
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Mas e o voto secreto na eleição do presidente da Câmara, heim? O que vocês acham?

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