26/03/2005


Ah, sei dizer que comprei o bitelão. Essa vida dizem que é pouca, dizem que amanhã cedo eu poderia muito bem bater as caçuletas, na mesma probabilidade que o faria aos 90 anos. Então comprei o bitelão. Eu tenho quinhentas mil coisas pra fazer, 499.999 pra ser mais exato, objetivamente não teria tempo pra ler o bitelão. Mas tem livro que procura o leitor, fica ali quietinho na estante, só guiando a gente. E a gente vai, pergunta se tem crossroad em dvd, volta, pergunta quanto é a memória pro palm e cansa e lê a revista, até que chega nele, no bitelão. Dizem também que os livros vão acabar daqui a meia geração. Coitados dos manezinhos do futuro, com seus livros eletrônicos, que não poderão sentir o cheiro do papel novo, a textura da capa, o estalar da cola quando se abre, a brisinha que sussurra letras, a abertura a esmo numa das setecentas e cacetadas páginas, o fim do capítulo Direito, em que se lê: ?A história do Homem é o direito de viver?. Câmara Cascudo vai me ensinar a enxergar o mundo com seus óculos de brasilidade.
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Isso na mesma tarde em que minha mulé havia me regalado as Memórias Inventadas do meu poeta preferido, que me conta nesse livro em forma de caixa e folhas soltas envoltas por uma fita lilás que tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Manoel de Barros vai me ensinar a sentir o mundo com seu ermo nos olhos.
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A caipirice1 não sobrevive sem melodia. Foi mais ou menos o que pensei, quando o bitelão na minha mão esbarrou num CD, dum cara que nunca tinha ouvido falar, e que agora estou ouvindo cantar: Zé Paulo Nogueira, que me diz: Quero a força do medo, o calor do fogo em brasas, quero chaves e segredos, desatar minhas amarras, quero na boca um beijo, um abraço e uma risada. Zé Paulo ditará o ritmo do aprendizado.

1.discurpa, dom mane, mas caipirismo implica um caipirista, e eu não sou esse troço não, eu sou caipira.
 Posted by Hello

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