Anteprefácio

Isto é um estímulo para a permanência e nitidez de uma idéia que me é fugaz. Na medida em que as novidades se obsolescem aceleradamente, as informações desenfreadas golpeiam a sensibilidade, a quantidade de tarefas inúteis acumulam-se de forma caótica, passo a esquecer de minhas reais vontades, de minhas intenções primeiras.
Por isso, o registro. E, mais, a sua publicação. Tudo fortalecerá o compromisso.
Anos atrás, no litoral, a onda de um pensamento chegou até mim. Reaprender o Direito. Por uma feliz sorte, encontrava-se ao meu lado um jurista. Permitam-me: um Jurista. Um filósofo, um cientista, um mestre. Numa só pessoa e em tão pouca idade. Pedi a ele um caminho, em poucos minutos ele desenhou numa folha de papel sulfite uma auto-estrada.
Adquiri os livros propostos, aproximei-os, folheei-os e deles aparentemente esqueci. O movimento nunca deixou de ser ondular.
Hoje sirenes me acordaram, sinalizando um tsunâmi. Sim, eu quero reaprender o Direito, para melhor ensiná-lo. Abasteci-me para trafegar na estrada proposta pelo Eduardo. Câmara Cascudo me atordoará, fincando pequenas farpas sob minhas unhas, para eu não esquecer que o Direito deve ser inserto numa cultura e, conseqüentemente, numa realidade maior. Minha rinite alérgica me distanciará das poeiras dogmáticas da erudição acadêmica. Mas a academia afiará a lâmina do meu facão, para tentar sempre afastar o mato ruim do cinismo e do desvirtuamento do poder, como formas de confusão conceitual, instrumento da perpetuação de uma má utilização da Regra, em prol da consecução, alastramento e sedimentação de indevidas vantagens corporativas, as quais, à maneira de cabos de colheres furtados nos presídios, cavam os túneis que erodem a estrutura principiológica da Constituição do presente e inacessível Estado Democrático de Direito.
Como vêem, as idéias não são claras. Nem fundas. Mas foi no raso que aprendi a nadar e existem óculos muito bons que permitem abrir os olhos sob a água turva. Quero limpá-la e nela me locomover.