04/11/2005

Dejetos

Comecei ontem a fazer uma oficina de roteiro com o Lourenço Mutarelli, quem não sabe quem é procurem "Transubstanciação", o maior HQ já publicado no Brasil na opinião deste humilde jornalista que não gosta de HQ.
O primeiro exercício, descrever uma pedra. O segundo, contar uma história que envolva uma garrafa, o terceiro: contar uma mentira que envolva uma garrafa. Só fiz o primeiro e depois travei total. Façam em casa vocês também.
Logo no primeiro de descrever uma pedra, escrevo um poema bem cretino, que começava assim: "eu sou uma pedra fossilizada" e sou obrigado a ler pra todo mundo. Micão. E no final ele diz para gente ir direto ao ponto quando for descrever algo ou contar uma história. O exercício era para ser técnico. O pensamento é imagem.
Estou dividindo isto com vocês porque sei que aqui pululam escritores, leitores, contadores e imaginadores de todos os tipos. Escrevo com toda esta clareza também porque são sete horas da manhã, escrevo assim de bobeira.
Sempre que venho aqui tenho vontade de contar segredos inconfessáveis, talvez por isso toda a névoa, a falta de clareza, as vertigens. "Não escreva para impressionar ninguém, escreva por necessidade ou caia fora", mais uma coisinha fácil e sábia.
Guardei o melhor para o final. Quando éramos adolescentes Madureira nos ensinou, todos nós o copiamos, a ter uma caderninho de mil utilidades, o C.M.U., onde escrevíamos tudo feito uma menininha e seu diário. E dom Mutarelli nos exortou a fazer o mesmo, mas o nominho que ele deu para o caderninho, que deve sempre ser mantido em segredo, é bem do seu universo: caderno de dejetos.
E parei pra pensar, ainda mais depois de uma situação desagradável que me aconteceu esta semana e não vou contar aqui. Escrever sobre nossas angústias, desejos e impulsos em um blog pode ser um exercício de crueldade para quem conhece a nossa casca mas não sabe o que se passa ali dentro. Antes da palavra querer sair.

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