10/02/2006

Madureira Falcão morreu,

disso vcs já sabem. Madureira deixou-me como legado o encargo de escrever nesse blog qdo julgasse necessário. Recebi por sedex um mapa enrolhado numa garrafa transparente e, seguindo as instruções, após os últimos cento e cinqüenta passos a sudoeste, deparo-me com uma pedra no meio do caminho, debaixo da qual engruvinhado jazia o referido legado.

Dadas as explicações, conto-lhes que conversava com uma pessoa há pouco sobre a minha necessidade de fazer com meu cerebelo o que costumo com as pilhas de papéis geradas quase espontaneamente ao lado direito da bancada.

Transfiro-as para o chão do meu quarto e passo a dividi-las em subpilhas sobre a cama: contas pagas, informativos, notas fiscais, apostilas. Guardo-as na pasta sanfona e quando necessito, já sei onde está o que quero.

A pessoa até achou bonito, mas cortou meu assunto, mandou-me embora e agora fiquei aqui, com o cerebelo na mão, sem saber o que fazer. Não são factíveis subpilhas para a dor, a esperança, a saudade, a expectativa, o desejo. São insuficientes subpilhas para a faculdade, a prefeitura, o escritório, o mestrado. Meu cerebelo ri ironicamente para, em seguida, cínico, pedir-me desculpas. Afirma, entre paternal e professoral, que quem manda aqui é ele, aconselha-me a apenas seguir suas confusas instruções. Seguir eu sigo, mas quando eu achar o meio de subempilhar satisfatoriamente, cê tá fudido, mermão.

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