01/03/2006

Fernando Inácio Cardoso da Silva

ELIO GASPARI
Folha de SP

O crescimento da economia brasileira em 2005 ficou em 2,3%. Número haitiano, abaixo dos 5% inventados por Lula, dos 4% prometidos pela ekipekonômica e dos 3,7% estimados pelo FMI. À primeira vista, o desempenho do "nosso guia" documenta o fracasso da nação petista. Isso não é verdade nem tem tanta importância.
A estagnação econômica do Brasil é suprapartidária, produto de uma ekipekonômica que muda de cara sem mudar de idéia e de governantes que mudam de idéia sem mudar de cara. Em maio de 2003 Lula prometeu o "espetáculo do crescimento" . Em março de 2000, FFHH prometera que "daqui por diante é desenvolvimento, bem-estar e prosperidade". Eram apenas animadores políticos. Têm hábitos diferentes, mas são a mesma coisa. Petistas que praguejaram contra FFHH e tucanos que praguejam contra Lula estão iludidos ou querem iludir os outros. Trabalham pelo predomínio da banca sobre a fábrica.
O crescimento médio da economia nos três anos de Lula foi de 2,6%. É semelhante aos 2,3% dos oito anos de FFHH. A estagnação brasileira perdeu dois bondes de prosperidade mundial, mas pagou o preço de duas crises. Durante 11 anos do mandarinato da ekipekonômica, os postos de trabalho, a renda e os direitos dos trabalhadores brasileiros foram sistematicamente corroídos. Até os patrões perderam. Na Grande São Paulo um empregador levava R$ 4.514 mensais para casa em 1995. Ao final do ano passado levava R$ 2.723. Indo ao outro extremo, o assalariado autônomo que presta serviços a uma empresa, entrou no jogo com uma renda média de R$ 1.644 e está com R$ 845, pouco mais que a metade.
Os números do desastre brasileiro de 1995 a 2005 assemelham-se aos da recessão européia dos anos 70. Lá, chamava-se a crise de crise. Cá, tudo é modernidade para quem mama nos juros e empulhação para os demais. Os 26 grandes bancos que já divulgaram balanços tiveram um crescimento de 50% nos seus lucros. As quatro maiores casas brasileiras estão entre as dez mais rentáveis da América. A repórter Márcia de Chiara fez a conta: em três anos de Lula, a banca lucrou mais que em oito de FFHH (R$ 44,1 bilhões x R$ 34,4 bilhões).
Devem ter sido poucos os períodos da história econômica nacional em que outro setor produtivo conseguiu resultados comparáveis à série da banca. Categoria de empregados, nem pensar.
Se as casas de depósitos e crédito ganham dinheiro, palmas para seus diretores, sobretudo para aqueles que vieram, foram, ou irão para a diretoria Banco Central. Bem outra coisa é o seqüestro do Estado pelos interesses da finança nativa e mundial.
Os sábios da ekipe gostam de dizer que o problema do Brasil deixou de ser macroeconômico, passou a depender da reforma da microeconomia. É empulhação, mas se tudo o que foi dito aí em cima era macroconversa, aqui vão duas microlembranças. Agora mesmo, a banca tem dois micropleitos junto à ekipe. Querem transformar os calotes que tomaram nas suas carteiras de crédito imobiliário em aplicações virtuais, enganando a lei que orienta recursos para o financiamento de casas.
Beleza: tu cobras juros, eu não pago a prestação, nós fazemos um acordo e eles ficam sem o investimento. Preferem também que o secretário do Tesouro, doutor Joaquim Levy, pare de falar em abrir uma licitação para a prestação dos serviços bancários à rede do INSS. Hoje a Viúva paga aos bancos para que atendam a turma da previdência. Levy achou que o negócio é tão bom que, se ele abrir uma licitação, haverá bancos querendo pagar para fazer negócios com aposentados. Cadê?

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