26/08/2007

Bora falar de livro?

saint-exupéry procês tudo, comunidade madureira.

Quando eu falo do meu livro preferido, e procuro na reação dos outros aquele assombro que ele me causa, eu lembro desse trechinho, que é o início, antes do capítulo 1, do Terra dos Homens. Pra mim é tão intenso quanto o início dA Metamorfose, que é a quase unanimidade dos inícios bombásticos.

"Mais coisas sobre nós mesmos nos ensina a terra que todos os livros. Porque nos oferece resistência. Ao se medir com um obstáculo o homem aprende a se conhecer; para superá-lo, entretanto, ele precisa de ferramenta. Uma plaina, uma charrua. O camponês, em sua labuta, vai arrancando lentamente alguns segredos à natureza; e a verdade que ele obtém é universal. Assim o avião, ferramenta das linhas aéreas, envolve o homem em todos os velhos problemas.
Trago sempre nos olhos a imagem de minha primeira noite de vôo, na Argentina
- uma noite escura onde apenas cintilavam, como estrelas, pequenas luzes perdidas na planície.
Cada uma dessas luzes marcava, no oceano da escuridão, o milagre de uma consciência. Sob aquele teto alguém lia, ou meditava, ou fazia confidências. Naquela outra casa alguém sondava o espaço ou se consumia em cálculos sobre a nebulosa de Andrômeda. Mais além seria, talvez, a hora do amor. De longe em longe brilhavam esses fogos no campo, como que pedindo sustento. Até os mais discretos: o do poeta, o do professor, o do carpinteiro. Mas entre essas estrelas vivas, tantas janelas fechadas, tantas estrelas extintas, tantos homens adormecidos.
É preciso a gente tentar se reunir. É preciso a gente fazer um esforço para se comunicar com algumas dessas luzes que brilham, de longe em longe, ao longo da planura".

Terra dos Homens - Antoine de Saint-Exupery, Ed. N0va Fronteira. Tradução do Rubem Braga.

Quando eu crescer eu quero ser assim. E tchau procês.