19/10/2007

Vi o vídeo da Nonna Stela e lembrei da minha vó.
Maníaca, quando chega uma visita, tem que ter algo pra servir. E se a visita não come, leva como uma ofensa capital.
Naquele dia não tinha nada.
E é justamente num dia como aquele que chega uma visita surpresa.
A véia enlouqueceu.
Enquanto a visita pegava o elevador velho do prédio mais velho ainda - desses que demoram 17 minutos pra subir 15 andares -, ela saiu insana pela cozinha, caçando tudo o que encontrava. Ia enfiando com farinha na panela e gritando: “Eles vão chegar, eles vão chegar!”
Minha prima, assustadíssima, dizia: “Vó, que mistura horrorosa”.
E minha avó ia misturando, misturando, enquanto sentenciava a profecia: “Eles cóme” (com o sotaque polonês de quem, tal qual Henry Sobel, mora há 37 anos no Brasil, mas ainda não consegue falar sem sotaque...)
Minha prima, cabreira, só pensava que coisa boa não podia sair dali, mas a vó, sábia, acalmava: “Eles cóme!”

Eles chegaram. Eles comeram. Eles adoraram. E o bolinho de coisa alguma, sucesso absoluto, se chama até hoje “Eles Cóme”. Não preciso dizer que a receita nunca mais foi reproduzida fielmente. A gente, no entanto, ainda come.