14/09/2005

ai.

eu não gosto de dor. nem por mim sentida, nem pelos outros. não nego a dor. sinto alguma dor, mas contrariado. procurando meios de fazê-la parar. exijo legitimidade para a dor. uma causa. um garrafão de pinga que caia na unha do dedão do pé. o conhecimento de uma crueldade. a morte próxima. nesse momento, nada está doendo em mim. sou uma cebola, já disse. as camadas do conformismo me protegem... da dor. meu maior defeito é protelar a retirada das camadas. motivos práticos sustentam ilegitimamente a postergação. daqui a um minuto tudo pode mudar. tudo pode doer. mas fugirei dessa possibilidade, com todas as minhas forças, no limite do respeito ao próximo. não sinto amor pelo próximo. quero sentir. sinto respeito. sou menos poetizável que... não, não, a analogia seria indevida: um pente velho e um cisco de manoel de barros são a poesia, que para mim tem a serviência de trazer alegria e ânimo. sou menos poetizável que um deputado federal. apedrejem-me. sem causar dor.

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