31/10/2005

A nova dimensão do futurismo

“Futura”, sexto álbum do Nação Zumbi, fecha a fase de auto-afirmação da banda e aponta caminhos menos retrógrados para o pop mundial

“Fui ali e voltei ao signo do som/ invocando os deuses ancestrais/ dos pensamentos espirais, maiorais das almas analógicas, às auras digitais, operando nas brechas multi-dimensionais/ tais quais as zonas autônomas/ da divisão que faz o levante dos temporais”, Voyager

Em seu sexto álbum, o terceiro sem Science, o Nação Zumbi descobre que a cor dos nossos sonhos é o preto e branco. Viajante e cheio de camadas como o “Revolver”, até a capa parece ser uma citação ao lendário play dos Beatles, “Futura” mostra que a banda é grande o suficiente para fazer um disco inteiro sem nenhuma referência nas letras ao desgastado universo.
As batidas de maracatu estão aqui e ali, ou não seria a mesma banda que deu um choque de Brasil no rockinho comédia dos anos 80, mas as batidas de maracatu surgem afrociberdelicamente de forma tão natural quanto Paulinho da Viola toca um samba porque só assim se sente contente.
Para o baixista Dengue, no disco a banda explora caminhos que seus integrantes vêm pesquisando em seus projetos paralelos, como o Los Sebozos Postizos. “Não é um disco alegre nem triste. É mais sério, reflexivo, minimalista. Nos remete a uma psicodelia mais de sentimento que de visão”, argumenta o baixista Dengue, por telefone de Recife.
Há, ainda, outros elementos pontuando o álbum. A crueza dos riffs de guitarra que não se via desde os tempos do “Da Lama ao Caos”, a bateria aprofundando no afrofuturismo, formando uma máquina rítmica com baixo e percussão, e, por fim, os timbres alcançados pelo canadense Scott Hard, que co-produziu o disco com a banda.
“Nosso esquema de composição é ficar improvisando e registrando. No final, tínhamos umas 50 músicas em CD-R, bases, idéias. Depois, a gente foi escolhendo e as músicas que ficaram tinham uma unidade, a gente não sabe o que aconteceu, elas já eram PB antes do conceito”, comenta Dengue.
“Futura” parece encerrar, enfim, a longínqua necessidade de afirmação da banda. Ninguém sabe que caminhos o Nação tomaria se Science estivesse vivo, mas uma coisa é certa, seria outro completamente diferente.
Há alguns anos, numa conversa informal com Zero Quatro, perguntei o que ele ouvia em casa. De cara, ele citou o Nação Zumbi e completou: “É a maior banda do mundo”. Achei um pouco corporativismo manguebitiano. Mas, hoje, se compararmos o disco do Nação com qualquer banda de pop ou rock de sucesso planetário ficaremos com a impressão de que a música brasileira deu um passo à frente. Não estamos mais no mesmo lugar colonizado de antes. Uma figa para o futuro.

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