19/04/2005

Por falar em uivos,

Numa chuvosa noite atibaiense, nos idos de 1992, 1993, bebiam e conversavam três amigos, provavelmente após terem assistido a um filme de gota qualquer. Tais pessoas um dia teriam um blog e responderiam se os chamassem de golb, ferreirinha e madureira. Tudo ia bem até as nuvens cederem ao vento frio, retirando as vestes da lua cheia, enquanto deletérios efeitos causados pelo excessivo vinho, safra 1974, agiam no organismo do futuro golb.
Resumindo, o golb pirou o cabeção.
Não se trata do golb que vcs vêem hoje, gosto refinado, cabelinho bem cortadinho no barbeiro que eu indiquei, elegante, posando para fotos ao lado de bonitos cálices de vinho tinto, bem melhores que o inesquecível branco safra 1974.
Naquela época, os cabelos eram compridos e presos por um frufru. Os óculos, aro redondo em acrílico preto, em conjunto com o inseparável moleton azul de zíper com capuz, davam-lhe um ar de adolescente obscuro e incompreendido. Não se esqueçam dos filmes de gota, a nós impostos (se bem que aí, o ferreirinha, então reencarnação do jim morrison, corroborava).
Daí aconteceu. Pirando o cabeção, o golb começou a uivar, sob os raios da lua, que entravam pela janela da sala. Ele começou a se sentir sufocado naquele ambiente fechado, uma força irresistível o fez sair para o quintal e trancar seus dois amigos, incrédulos, dentro de casa. Lá ele pôde uivar a toda altura. Ferreirinha e eu não acreditávamos, mas resolvemos desencanar e continuar o vinho. Mas o golb não parava. Ia de uma janela para outra e já não falava. Apenas uivava. Começamos a pedir para abrir a porta. A ordenar. A ameaçar. A implorar. Uma hora depois, quase chamávamos a polícia, o manicômio, a carrocinha, quando ele voltou a si. Entrou, sentou no sofá, riu um pouco e disse que finalmente tinha entendido aquela cena da gota caindo no balde, no final do filme.

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