2.

Eu queria esquecer que as palavras podem vir sem sentido como um peão que roda no tabuleiro de espiral até que vem uma idéia e ordena todos os fatos como que enfileirados, mas tem dias que isso é difícil difícil, preenchem-se já três linhas e nada e começa a se lembrar de coisas desconexas como as palavras que saem dos dedos lembro de vc nuinha indo pegar mais bolacha e então tudo era resplandescência se é que isso existe, tá bom, vai, resplendor, eis que chegam as vírgulas e eis que vc reclamou do frio enrolou-se toda no cobertor com o qual ainda cubro as frias noites e então vc escrevia algo que me coroava rei, coroa de papel desfazia na chuva. a música nunca mais foi ouvida, sai cazuza, manezim me chamava de zuza, mas esqueceu, vai fazer trinta e um no dia da audiência do juiz empertigado que zoou o bronza e depois me zoou, patife. Vc nuinha reclamava de alergia no pescoço lá toca ir achar o álcool no chão frio da lavanderia, devia ter balões no céu, devia ter estrelas cadentes a noite demorou pra passar e a memória do tempo faz a gente selecionar. A mania de fazer listas e descumpri-las peguei de manezim, que esperava os jornaleiros chegarem perto da rodoviária, pronto, o peão das idéias ordenou tudo e agora dança esbelto no círculo imaginário. Os jornaleiros não chegaram e daí ele me explicou no papel da lista porque o dunga era importante, Dio Mio, copa de 94, sinto dizer, jamais me convenceu. Vc nuinha me falava de sei quê lá tântrico mas eu lá queria saber daquelas diversidades eu era o Eduardo da música da Mônica, sem nunca ter jogado futebol de botão decentemente daí eu vejo nítido que vc era realidade demais pro chefe dos ceêmeús eu tinha um aparelho de som bizarro que era um toca-fita de carro dentro de uma caixa de madeira com duas caixetas de som uma de cada lado sinto dizer tão tarde mas o fundo do aparelho de som era esconderijo pra o que lá coubesse e lá couberam todos os meus sonhos quem sabe tiro de lá algum ainda hoje, junto com os farelos das bolachas e os esqueletos das lagartixas.