08/12/2006

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Nanajara parecia um bicho, tinha o olho amarelo e pintas marrons. Mas era plenamente humana, ainda que difícil. Um dia descendo do ônibus, se irritou comigo e disse, numa estação com um shopping center, “nunca senti tesão por mulher”, acabando comigo e com o meu tesão.

Um dia depois já não estávamos juntos, eu estava sozinho, o pano de fundo do blues, a musa despedaçava. Antes rosa e de plástico, antes o sexo quase incestuoso com a filha, eu sou um velho, ela é uma menina púbere, azul e vermelho, viria.

Meu desejo renasce na profecia do caos, minha morte é lenta, a vida é lenta, o tempo... você eu sinto o tempo? Olhos de estrelas na frente do espelho, narciso de pó sintético, sensação de amplitude nas montanhas.

Eu ia para o computador e era o que me restava. Encontrava signos aleatórios, vigiava blogs e proferia palabras sem sentido.

Escrevia artigos sobre assuntos que desconhecia, sempre com radicalismo, ah estou muito puto e tudo é uma merda.

No meu colchão ela deitava fumando um cigarro, e balbuciava alguma coisa, entendia metade. Nanajara me fazia companhia, mas faz mais de um ano que se foi e agora eu posso falar.

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