02/09/2007

"Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol" A.C


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Era uma vez um tempo em que o sol continuava o mesmo. Às vezes ele se punha dourado no canto da serra, na verdade eu não pudia ver a serra de onde estava. Eu saí na rua, de muletas, arrastando a pata quebrada até cheguei a rua e ergui os olhos para o sol. O sol é o mesmo, como dizia aquela carta de despedida citando o heterônimo camponês de pessoa Alberto Caeiro, o meu segundo preferido depois do malucão hipster Álvaro de Campos, doidão de ópio em um navio. Na verdade em um apartamentozinho em Lisboa, será? Que porra.... Mas a tal carta de despedida que Nara mandou para André citava Caiero e citava que a natureza ia continuar ali depois que eles morresem. Ele achou de mal gosto, como achava tudo que as mulheres achavam, na verdade era um sexista filho da puta, um machista enrustido com tesão por histéricas. Mulheres que não gostam de pau propriamente.
André é um neurótico obsessivo cuja mente funciona através de mecanismos bizarros. Números matemáticos e resoluções em cadeia. Por exemplo, para ter uma rotina precisa realmente ter uma rotina que implicava dormir e acordar exatamente na mesma hora todos os dias, a saber: dormir 23h57, acordar 8h27. Tudo tinha explicação e neste caso o motivo era que o ônibus que ele pegava para ir ao trabalho saía às 10h27 e ele tinha duas horas para começar o dia.
Não sei porque diabos comecei a falar disso tudo. Só queria escrever um pouco em terceira pessoa, um exercício interessante mas que não é para qualquer um. MADUREIRA tem os dons, ele sim preconizou nos CMUs toda a essência kaflaniana caipira.
Só um causo, que se foda André e Nara, já desencanei de contar a história deles, mas vamos ao causo, agora só vou falar dos CMUs, outro dia eu estava em um ônibus ou no topo de uma montanha e eu desenhei na capa de um bloquinho meu CMU against the world, paranóia delirante? Vou escrever essa merda em todos os meus bloquinhos de jornalista. Eu tinha um bloquinho desses no caminho de Santiago e eu ainda devo ter aqui nos escombros, que é como meu quarto é conhecido.
Eu morei um tempo com minha irmã no casarão, ela é uma pessoa que me conhece. Ela sabia que existia uma coisa proibida que eram meus escritos. Poemas horrorosos que eu escrevo desde os 16 anos. Um dia ela viu uma menina lendo meu bloquinho e eu do lado totalmente sem graça. Ela pensou, ele pirou está deixando essa piranha ler os escritos proibidos.

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Nara é uma loirinha peituda. Na verdade ela é castanha como Baboulet de La Ruet, mas com alguma espécie de loiritude sexual, um quê de puta com orgulho, uma coisa de poucas mulheres que assumem sentir tesão e estar atraídas por alguém fisicamente. Naquele caso aconteceu, André não teve que falar nada. Eles simetricamente deitaram em um colchão no chão do casarão. Antes, ele olhou para o relógio para saber se já podia ir dormir e viu que eram 5h55.