01/09/2007

Tem hora que eu queria ser uma árvore, mas sou um engano buscando uma árvore de quem ser raiz. Radicalizar, afundar-me em um corpo estranho e torná-lo familiar.
Em busca do shasei já faz uns dias eu próprio me tornei uma tela em branco. Nada irá brotar como um tubérculo do sofrimento ou da saudade. Eu nem sei mais o que estou fazendo e não sei porque escrevo também.
Passei alguns dias sendo o mais piegas possível. Uma situação que era insustentável, um apaixonamento é sempre uma roubada, não-correspondido é assim que se determina no caso de um represamento da libido, engolir água com sal.
Ela me nauseia. Conversas de apresentação, eu sou este, tenho tais fantasias, sob um pano de fundo ilusório, o jogo da lila, a dança do destino e do acaso. Prazer. Palavras dissemantizadas.
Lord Byron, o gato, me olha com seus olhos amarelos. Ele está sob o sofá, provavelmente chapado de licor de chocolate.
Ele entra no computador, abre o arquivo minhas músicas e clica em “Naked Lunch”, Ornette Coleman e a música 1 também se chama “Naked Lunch”.
Vamos voltar tudo do zero, de seis meses atrás, estou em São Paulo, no apartamentinho que nenhum de vocês conheceu, é como se não existisse, mas para mim ele é uns sons.
Temos uma senhora na sala.
Eu vou até a gaveta das drogas, tomo um E, passo na geladeira branca, a mesma que está aqui em Jundiaí, não me sinto nem barroco nem neurótico. Que seu eu? Que outro você? Ela comenta “a água está fresca”. Um comentário brilhante porque estava na geladeira e depois foi retirada porque eu odeio gelado.
Eu odeio uma série de coisas e eu odeio ser uma pessoa odiosa.
Mas eu mastiguei a pastilha amarga e ela me ofereceu seu corpo. O resto foi provocado pela minha mente, enquanto eu estava sozinho ruminando. Enquanto eu decidia se ia tomar banho ou não, se eu ia viver ou não, ou se nada fazia diferença.
Eu ia escrever um romance mas antes decidi ler grandes sertão veredas. E eu tô quase no final e achando que isso vai acontecer eternamente. Antes foi Pedro Páramo, Raymond Chandler, William Gibson... o círculo do tempo uma hora vai arrebentar, você vai morrer meu chapa e se não tiver coragem e melhor parar de uma vez.
Quando a foto dela apareceu no msn dei uma balançadinha na coluna da direita pra esquerda, igual quando vai começar a meditação Zen. Estou confundindo tudo. Não vou conseguir esquecê-la.