16/09/2007

Carta a Mestre Ferreirinha

Mestre Ferreirinha, venha cá perto, mestre ferreirinha
Que eu preciso de uns favores
Me ensine a tocar viola, mesmo se não souber tocar
Tome comigo um café de coador no entardecer do interior
Me faça conhecer as moças que dançam ciranda quando tocas o teu baixo-caxambu
Vamos dançar um jongo com elas, mestre, que o resto não importa
Vamos lançar as dores na poeira do terreiro, mestre ferreirinha
Vamos falar de amores
Vamos fundar um movimento, vamos alastrar o fogo
Me faça um show com os peixes no mercado
E me leve pra ir dançar
Peça ao tristeza pra compor um jongo
Me leve conhecer
Faça o tambor tocar, mestre ferreirinha, que o resto não importa
Vamos separar o joio da vida que o resto, mestre, ah, o resto não importa não
Me ensine essas coisas todas que o senhor sabe, ferreirinha
Fale mais delas pra mim
Essa cultura toda está aí pra gente se alimentar
E o meu estrombo dói de vazio, mestre, tem dó
Vamos nos fartar
Que o resto, xé, o resto
Que o resto ou se incorpora, ou avoa na poeira
Machado!