28/11/2005

Horda alvinegra

A ocasião era simples. Consistia em resgatar minha mãe do hospital, onde ela está enfurnada há semanas, levá-la para almoçar pelos lados do Morumbi mesmo, e devolvê-la, sã e salva, algumas horas depois.
O que não poderia eu suspeitar era que, em dia de jogo marcado para as 16:00h., ao meio-dia já estariam marchando hordas de corinthianos em direção ao estádio. Oceano de visigodos alvinegros transbordando por todos os lados que os olhos conseguiam enxergar.
Não poderia suspeitar, ainda, que o bordão “a multidão é uma arma” realmente é aplicável ao universo esportivo. Tive que encostar o carro ao lado de um guarda, com muito cuidado e carinho, para lançar a heresia bem baixinho, quase aos sussuros: "-Moço, é Corinthians contra quem?"
Para início de conversa, parecia que a partida seria Corinthians X Corinthians. Por todos os lados só se via “branco e preto”. Depois é que me toquei que as camisas do Ponte Preta deveriam ser... hum... pretas. Enfim, o fato é que a visão me lembrou de um episódio vivido por esta mesma Bisturelma, junto com a mesma Louise mencionada em outro post, no Peru. Apelidamos os peruanos de Miguelitos. Um dia vimos de longe umas criancinhas jogando futebol. Enquanto nos aproximávamos, concluímos que a partida estava sendo travada entre Miguelitos X Juanitos. Mas, quando nos aproximamos, notamos que todos os menininhos, absolutamente todos, tinham exatamente a mesma cara. Começamos, então, a narrar: -“Miguelito passa a bola para Miguelito.”
-“Miguelito dribla Miguelito.”
-“Miguelito finalmente mete a bola em Miguelito”.
Enfim, tudo isso pra dizer que o jogo devia ser de Corinthians X Corinthians. Uma adaptação bizarra de “Quero Ser John Malkovitch”.
Continuando... Admito que no começo aquela invasão bárbara me deixou meio receosa.
Mas, conforme fui me resignando a ficar com o carro preso na multidão – não tem jeito mesmo –, comecei a observar o ambiente, percebi dois carros com pessoas completamente desconhecidas emparelhando e trocando saudações. Passei a notar desde o discreto código ocular dirigido de um torcedor a outro, até as manifestações mais eloqüentes de palavrões até então desconhecidos mesmo por esta inegável boca-suja.
O fato é que, embora eu sempre tenha achado futebol uma perda de tempo, fui me deixando envolver pela energia. E não é que o transe coletivo me contagiou?!
Quando percebi, estava trocando buzinadas com o carro do lado. Fiz tchauzinho pruns três ou quatro. Devo até ter deixado escapar um “timão êô”, que ninguém é de ferro.
O resultado é que, do Outback até o Albert Einstein levei 55 minutos ao invés dos costumeiros 15.
Pensei, são 15:35h... acho que vou voltar para casa e assistir o jogo.

Pera lá, tudo tem limites!

O fato é que, seja lá que bicho me mordeu, passou! Me pergunta se eu sei qual o resultado do jogo????

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