28/11/2005

Quem me conhece há quinze anos sabe dos meus subterfúgios para viver melhor. Criei o pensamento binário, pralgum pensamento hoje esquecido parar de me atormentar. Consistia em vc simplesmente não pensar: se eu começava a sofrer, pensava: escovo os dentes. Direito ou esquerdo primeiro? Direito. Depois esquerdo. Agora vai pro quarto. Agora põe a gravata. Agora pega a pasta. Agora desce o elevador. Agora atravessa a rua. É, não ta dando pra explicar. O pensamento binário não combina com explicação. Consistia em vc encher a sua cabeça de pensamentos 0 ou 1, concentrando-se em cada detalhe, pra esquecer o pensamento errado.
Depois, alguma culpa deve ter me assolado pra eu criar meu lema “be good, be fine”. Algo como um madureira estóico e um Madureira epicurista congratulando-se. O madura be good estóico, tem que ser bom com as pessoas, tem que só fazer o bem, só pensar o bem, só sentir o bem. Moral inabalável. Daí o madureira Epicuro be fine só queria se dar bem, gozar a vida, relaxar, curtir. Juntava os dois, apracool pa curar, pa curar é apracool.
Interregno de década, eis que hoje cedo invento o mais recente subterfúgio e a principal beneficiária seráááá ela!! A Jurubeba!!!
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A Jurubeba é uma das melhores amigas que eu tenho ehehe. E ela é minha colega tb. E eu dou pelo menos uma caronex por semana pra ela. E ela tá com a nenenza nas barrigas. E não pode se assustar. E eu guio por onomatopéias que assustam. E sou um péssimo ser humano ao volante. Todas as fraquezas humanas brotam em elevada potência. Brotavam, pq a partir de hoje o meu novo subterfúgio é ser oooo Midas no Roquenrol!!!
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Funciona simplezinho, se vc é violento, cruel, desrespeitador e vingativo no trânsito, como eu era até ontem, tenta que vc não vai se arrepender.
Na verdade todas essas qualidades acima afloravam quando algum folgado tentava tirar vantagem de mim no trânsito, ou então não aceitava minhas desculpas e metia o buzinão, etc etc.
Ontem eu voltava pela Fernão, quando vi um jipão enlameado voltando pra Capital. Pensei em como eu quero ter um jipão desses pra andar no meio do mato. Reparei que podem acontecer as piores agruras no mato que eu não tô nem aí pro fubá. Mas se alguém olha feio do carro ao lado na Capital, eu me endemoninho. Endemoninhava, pq a partir de hoje eu sou o Midas no Roquenrol!!!
Pensei assim: se esse carro que me fechou fosse uma pedra que descesse rolando, eu não xingaria a pedra. Se o dedinho do meio do folgado fosse só um lado pontiagudo de uma pedra, eu não me estressaria. Pedras não chegam colando e dão farol alto pra vc sair, pedras não roncam o motor do seu lado, desafiadoramente, pedras não xingam e buzinam se vc fez uma brevíssima menção de pegar a faixa ao lado, não há fila de pedra parada enquanto à sua volta há filas e filas de pedras rolando.
Ser o Midas do roquenrol é isso: só de olhar, vc se imagina transformando todos os indesejáveis carros, motos, motoristas, guardas, ciclistas, pedestres, tudo isso em pedras, rolando pelas ruas. E eu posso ser louco de ficar inventando esses subterfúgios, mas ainda não cheguei a ponto de discutir e esbravejar com uma pedra que rola. Resultado: i’m too fine, thanks.

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